Iniciamos esta série entrevistando o pastor José Marcos Jr, mais conhecido pela alcunha de Marquito.
Marquito é Plantador e pastor da Comunidade Alternativa Cristã Ajuntamento na cidade de Piracicaba – SP, formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e Pós-Graduando em Plantação e Revitalização de Igrejas pela mesma instituição. É casado com Deborah, com quem tem uma filha: Luíza.
Igreja Missional: Em sua visão, o que é ser uma igreja missional?
Marquito: A minha visão de igreja missional tem a ver com uma comunidade “voltada para fora”, ou seja, onde o que fazemos como comunidade tem por objetivo alcançar a outros, cumprindo em nossa vida, programações, treinamento e visão a Grande Comissão do Evangelho, a saber: “ir a todo mundo e pregar o evangelho a toda criatura.” Desta forma, a manutenção da comunidade e toda burocracia nela envolvida torna-se secundária, pois o que importa é a contextualização do evangelho à nossa sociedade e cultura e o quanto cada membro da comunidade vive o evangelho como testemunho entre as nações. Resumindo: uma igreja missional não entende a missão de pregar e viver o evangelho como parte dela ou como um dos seus ministérios, mas como a essência de sua existência no Reino.
Igreja Missional: A Ajuntamento é uma comunidade que claramente busca a contextualização. Qual o fundamento bíblico para a contextualização?
Marquito: Para nós o maior fundamento bíblico está na encarnação. Para nós nada é mais contextual do que o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, ou seja, falou a nossa língua, teve o nosso cheiro, pisou nas estradas poeirentas de Israel. Também vemos o texto de Atos 17 (de Paulo em Atenas) como emblemático para a contextualização, pois ali ele usa do totem ao “deus desconhecido”, e a partir da realidade da idolatria daquele lugar prega o evangelho e faz um “link” com a realidade da salvação oferecida em Jesus.
Igreja Missional: Você enfrentou, ou ainda enfrenta, algum tipo de preconceito por parte de algumas igrejas? A que você atribui isso?
Marquito: Sim, ainda sofro com muito preconceito! Eu atribuo isto ao medo que o novo sempre gera em qualquer época ou sociedade. Durante décadas em nosso país estivemos acostumados a um tipo de igreja, a um determinado esquema litúrgico que inclui determinadas músicas, vestimentas e outros utensílios, além de um linguajar que se tornou próprio apenas de púlpitos ou templos. Quando, de alguma forma, você rompe com isto (sem abrir mão dos princípios), as pessoas tendem a imaginar que você está abrindo mão do evangelho em si. Aí, demonstra-se a confusão entre evangelho e cultura evangélica. O que propomos é seguir o evangelho de Jesus e contextualizar a mensagem de acordo com a cultura do tempo que se chama hoje.
Igreja Missional: A teologia ocupa lugar secundário dentro de uma proposta de igreja missional?
Marquito: Pelo contrário! Tudo o que uma igreja missional se propõe a fazer deve, necessariamente, estar embasado teologicamente. Não é possível fazer a contextualização sem um profundo conhecimento das bases históricas da nossa fé e sem uma hermenêutica muito bem feita das escrituras.
Igreja Missional: O que vem a ser uma liturgia missional?
Marquito: Vem a ser uma liturgia que tenha conexão com o tempo que vivemos, que transmita os valores do Reino àquele que está dela participando e que leve à adoração produzindo o mínimo possível de ruído na comunicação. Algumas perguntas precisam ser feitas ao se pensar uma liturgia missional: as músicas que cantamos falam o quê e a quem? A linguagem das músicas, textos e orações é inteligível ao ser humano pós-moderno? O que fazemos serve a Deus e a Seu povo ou apenas à história?
Igreja Missional: Pode definir o que é uma liderança missional?
Marquito: É uma liderança que pensa a estratégia da igreja nos pressupostos listados acima para uma igreja missional. O que costumamos nos perguntar aqui ao tomar uma decisão é: o que fazemos tem a ver com a missão que entendemos Deus ter nos dado como igreja? Como podemos, através das estratégias que adotamos e do planejamento que fazemos ser fiéis ao chamado como igreja do Senhor Jesus em pleno século XXI – uma liderança missional sempre estará atenta a estas questões.
Igreja Missional: Como é uma pregação missional?
Marquito: Em primeiro lugar é altamente contextualizada. Um dos graves problemas que vejo em muitas mensagens cristãs do nosso tempo está no fato de que elas respondem de maneira altamente correta às perguntas que levanta, só que as perguntas que levanta não são as perguntas que o povo está fazendo. Ou seja, a resposta está certa, mas a pergunta proposta é equivocada. Aí, temos muita gente simplesmente respondendo a perguntas que não estão mais sendo feitas! Em segundo lugar precisa ser bíblica. Isto é importante ressaltar porque, muita gente no desejo de ser contextualizado e descolado tem perdido a oportunidade de pregar a Palavra. Há muito conteúdo de psicologia travestido de evangelho e pouco evangelho sendo anunciado. Em terceiro lugar precisa usar uma linguagem adequada. Não adianta falar muito e corretamente, com uma ótima hermenêutica e exegese se, na hora de transmitir a mensagem, ninguém entende nada! Um pregador missional precisa, necessariamente, conhecer o povo a quem prega e falar a língua dele!
Igreja Missional: Em sua opinião, “missional” é apenas uma nova onda eclesiástica, ou uma direção de Deus para igrejas hoje? Justifique.
Marquito: Em minha opinião é uma direção que Deus tem nos dado. A principal justificativa tem a ver com a Palavra. Ora, se Jesus, que é o Cabeça da Igreja, veio para buscar e salvar o perdido e não para manutenção da religiosidade reinante em seu tempo, então nós, como Corpo de Cristo precisamos entender assim o nosso chamado, compreendendo a igreja local não como um fim em si mesma, mas como um instrumento de Deus em nosso tempo para que o evangelho continue a alcançar os que estão perdidos. Assim, ao meu ver, a “onda missional” tem a ver com um despertamento do Espírito Santo no coração de muitas pessoas desejosas de ver o evangelho alcançando do maneira efetiva aqueles a quem Deus tem chamado.
*Você encontra mais do Marquito e da Comunidade ajuntamento em: www.ajuntamento.com.br
Em Cristo,
Roberto de Assis
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